26 de dezembro de 2012

Seiva Canibal

“Ironicamente sou um curumim perdido na floresta, não aprendi a lhe dar com a caça de corças, eu sei! Perdido estou nessas mata cujas diversas madeiras me cercam; grandes, grossas, tortas, retas, lisas, desenhadas em seus corpos as raízes dos cipós, enfim…
Fico atônito, pois não posso tocá-las… segundo a lei Tupã pode amaldiçoar-me, por ser um mal caçador e ser lançado da tribo.
Indigno-me… - se nasci dentre elas! - Sou fruto delas! - das suas sementes eu vim, - dos bagos de seus pomares era a promessa de uma geração! Mas sequer nesses posso olhar, se não serei tentado a devorá-los e me afastar da aldeia e de Tupã, justamente por não abater corças.
Tenho que seguir…, de cabeça baixa, se a erguer, caio em tentação em querer recostar-me, - mas é impossível, quero descasar e deleitar-me em um tronco, para amaciar minhas costas!

Sem respostas, sofrendo, sentindo na pele a dor da rejeição, tomado pela dor do sacrifício violo as leis sagradas, extrapolo, tento saber do mal que consterna meus pensamentos, e com toda força, vou e cravo as mãos em seus rústicos corpos naturais, entrelaçando meu corpo a estes, trepo até as copas no impulso com as pernas, alcanço o prazer de cada centímetro, chego ao ápice, penetro em seus trocos com toda volúpia, e enfim… deparo-me com outra divindade, A Seiva, morna e espessa, que penetra-me o corpo e me faz descobrir o branco em minha pele vermelha tupinambá, elevo à boca, não é agradável, mas em outras partes faz-me tornar-me momentaneamente cego…realizado.
Desço e desfaleço, mas novamente seu caule me chama e torno a trepar, ouso agora beber... embriago-me, sinto-me tonto, desmaio … acordo, corpo mole, satisfeito, realizado. Mas a sede permanece e os troncos continuam ao meu redor, me chamando, seduzindo a trepar e a beber das seivas que fazem deste curumim, um cacique canibal!” W.M..

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