20 de abril de 2013

Filho do Boto

Reza a lenda que um boto cor-de-rosa sai dos rios em certas noites de lua cheia com um poder especial, consegue se transformar num lindo jovem bem vestido, usando um chapéu para encobrir e disfarçar a grande narina que não desaparece do topo de sua cabeça com a transformação. Com seu jeito galanteador e falante, o boto aproxima-se das jovens desacompanhadas, seduzindo-as. Logo após, consegue convencê-las para um passeio no fundo do rio, local onde costuma engravidá-las. Na manhã seguinte volta a se transformar no boto.  Na cultura popular, a lenda do boto é usada para justificar a ocorrência de uma gravidez fora do casamento.
   
Esse post tem como propósito mostrar a realidade de filhos gerados fora do casamento. Como nativo amazônico, sei como é duro a quebra da tradição por conta de tal conceito entre sua vizinhança, o que é diferente nas grandes cidades, afinal parlendas não tem vez em selvas de pedra. Mas mesmo assim não é onde quero chegar, meu objetivo é trazer ao raciocínio a ideia do filho gerado fora da tradição. A ilustração da lenda citada me fez imaginar o que ultimamente venho imaginando, no futuro pai que obviamente pretendo ser e no filho do pai que terá. 
 Não quero afirmar que o Boto seja gay só pelo fato de ser rosa, o que não teria cabimento afirmar aqui, a sua cor não o desconsidera como macho, mas o fato do boto gerar apenas no seu rio, não sendo um homem completo e sendo sempre o fator resultado da história o filho de pai estranho me fez pensar em escrever sobre essa ótica.
O boto-rosa, o filho, a transformação não completada, a jovem desacompanhada, o rio, enfim, tudo isso me faz menção a minha condição e a medida solúvel pra um pai sem precisar comparecer de praxe ao corpo de uma mulher. Sei que você pode estar se perguntando agora “esse cara é doido!?”, mas sempre amei a lenda como ilustração a mim, não querendo me gabar, mas faço um sucessinho vez ou outra com a mulherada kkkkkk, isso porque é de lua mesmo, é de como me visto ocasionalmente e pelo bom papo que tenho, eu acho.

A novidade é que o Conselho Federal de Medicina mudou as regras e incluiu novas famílias, antes limitadas a casais heterossexuais, agora, solteiro, casado, separado ou homossexual poderá ter acesso a essas técnicas de reprodução assistida, santa medicina, realmente Deus está a nosso favor!
                                                          
Sangue do meu sangue, traços meus, olhos, boca, tudo isso me faz querer ter um filho propriamente dito meu. Rick Martin (um boto-rosa) após sua declaração (transformação incompleta), em uma entrevista a um programa de TV norte americana, reafirmou como é se sentir pai de filhos gêmeos gerados por inseminação artificial e como foi a escolha da mãe (moça desacompanhada), não se arrependendo pela bênção a ele concedida, pois estava literalmente vivendo La vida loca, pela vida famosa que levava e ao mesmo tempo anônima (o rio). E ele, sendo meu Divo, me motivou a como me sentir potente à paternidade sanguínea mesmo sendo homoafetivo.

Bem,enquanto a lua-cheia não se aproxima, aguardarei, em plantão à hora em que sairei desse anonimato, do espelho d’água que cobre minhas vergonhas, com o chapéu do anonimato que mascara meu limite.


O segredo do Boto-Rosa, pra mim, é trazer essa moça ao seu rio, e compadecida ao conhecer tal mundo gera a este o dom de se tornar pai de uma geração “impossível”, talvez, por ter um filho do Boto seja um mero mito popular, mas a luz dos tempos atuais se tornou em uma grande realidade.

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